Memórias femininas: o cotidiano de mulheres negras e quilombolas na Chapada Diamantina
- Edenilson de S. Teixeira
- 19 de set. de 2015
- 4 min de leitura

LIMA; Karla Dias de. Memórias femininas: o cotidiano de mulheres negras e quilombolas na Chapada Diamantina. In: XII Encontro da Associação Brasileira de História Oral, 2014, Teresina - PI. nais [recurso eletrônico]/ XII Encontro da Associação Brasileira de História Oral, 2014. v. I. p. 1-11.
RESENHA CRÍTICA
Karla Dias de Lima Possui graduação em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB; concluiu uma especialização em História social e Cultura Afro-brasileira pela Universidade da Cidade do Salvador e uma especialização em Educação e Diversidade Étnico racial pela Universidade do Sudoeste da Bahia. Atualmente, está cursando Mestrado em História Regional e Local na UNEB e direciona sua linha de atuação aos temas relacionados a diversidade, gênero, sexualidade e comunidades quilombolas.
Em seu artigo com o título “Memórias femininas: o cotidiano de mulheres negras e quilombolas na Chapada Diamantina”[1], ela procura abordar a temática em torno das percepções que as mulheres da comunidade quilombola de Tucum, localizada entre os municípios de Tanhaçu e Ituaçu, na entrada sul para a Chapada Diamantina, tem sobre o mundo e a comunidade, suas noções de identidade e relações com os outros moradores, procurando a todo momento demonstrar como elas articulam a sua identidade negra e quilombola, bem como seu protagonismo feminista.
A análise aqui apresentada, pretende enfatizar a importância do seu artigo nas questões referentes sobretudo à violência sofrida pela mulher. Não se trata apenas de violência física, mas, principalmente identitária, na qual entende-se que os discursos femininos descritos na história, foram formados através da mentalidade masculina e não verdadeiramente da mulher. Elas viviam submissas a dogmas ideológicos, na qual eram construídas noções de boa conduta, levando ao respeito da presença masculina, deixando de lado sua própria noção de identidade.
Edgard Main na Teoria da Complexidade, trata sobre o conceito de totalidade, desconstruindo-os, para ele o olhar do ser humano é parcial devido à complexidade dos fenômenos naturais. Este conceito nos ajuda a entender que a figura masculina falava da mulher de acordo seu ponto de vista, submetido a construção social machista, não dando a ela a oportunidade, enquanto protagonista da sua história que escrevesse sua identidade perante sociedade.
Através de pesquisas na comunidade de Tucum, o artigo pretende investigar o que significa ser uma mulher quilombola nos tempos atuais, quando sua história é marcada pela dominação racial e indenitária, de divisão social e do discurso machista vivido ao longo da sua trajetória. Um ponto importante para conseguir entender o meio inserido e se reconhecer como quilombola, alvorecendo dentro de si, sentimento de pertencimento e segundo Karla Dias de Lima, foi este reconhecimento da interdisciplinaridade existente entre este e outro povoados também quilombolas, que mostraram a eles sua identidade, e ao longo de sua trajeória as válvulas de escape, como os costumes e tradições, que representa o silencio de quem muitas vezes não pode falar.
"O mais importante é não deixar o que está ainda escrito no povo quilombola se perder, pois é o pouco deste ser indenitário que vai se construindo um novo povo quilombola(...)Entre as mulheres entrevistadas pode-se perceber que estas sofrem as aflições cotidianas de todas as mulheres, na lida com a casa, no trabalho com o barro e com o futuro dos filhos e dos jovens da comunidade (LIMA, 2014)."
O gênero feminino social, constroem percursos diferentes principalmente nas reflexões sobre a opressão masculina. Esta lacuna social fez com que as mulheres negras lutassem por igualdade de gênero e timidamente escrevendo uma nova história de luta e superação, imunizando gerações futuras do machismo e desigualdade social por conta da cor.
"Nesse ínterim, a mulher (na categoria genérica: branca) é vista como sujeito histórico pela via da família e da natalidade, enquanto que a mulher negra ganha visibilidade pela luta por espaço e afirmação. É notório que as mulheres do povo só figurassem nos discursos masculinos, por ocasião de uma insurreição contra a ordem, os preços e determinações políticas e sociais (LIMA, 2014)".
Karla Dias de Lima relata em seu artigo a expressão passada na hora das entrevistas, como a da senhora Dona Anísia Oliveira, que tinha 96 anos por ocasião da entrevista em 2012, na qual afirmou não saber mais histórias por timidez, e logo depois começou a falar de suas vivências, tecendo histórias de lutas e pertencimento, não apenas do que ela viveu mais sobretudo de histórias passadas por geração, que ainda tímida está viva nas tradições e diálogos, sobretudo na religião que desde muito antes esteve presente na história daquele povo.
O artigo é muito bem embasado e representa um material de grande valia para o povoado de Tucum, uma vez que traz em sua obra relatos de uma geração que não existe e/ou a pouca representação viva, ou seja, se trata de um material histórico salvo da extinção e que também traz consigo o processo de ocupação do espaço social pela mulher quilombola durante sua trajetória até os tempos atuais. Aborda o conceito de violência que as mulheres vêm sofrendo no âmbito social, a qual pode ser denominado “violência identitária” para identificar a ocultação da identidade feminina pelo machismo, que quer determinar o que é ser “mulher”.
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TEIXEIRA; Edenilson de Souza. Discente, curso Bacharel em Comunicação Social Jornalismo em Multmeios. Universidade do Estado Da Bahia, DCHT-Campus XXIII, Seabra. Email: dell.paraiso@gmail.com. Autor.
[1] Visualizado 10/09/2015 no endereço eletrônico http://www.encontro2014.historiaoral.org.br/resources/anais/8/1397490186_ARQUIVO_MEMORIASFEMININASOCOTIDIANODEMULHERESNEGRASEQUILOMBOLASNACHAPADADIAMANTINA-KarlaDias.pdf
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