Relato pessoal: EU ME ARREPENDI DE TER ABORTADO E HOJE PEÇO PERDÃO.
- Ana Teles Carlos.
- 17 de out. de 2015
- 3 min de leitura

http://uolpost.com/noticias/dilma-mentiu-sobre-o-aborto-e-mostra-se-favoravel-a-legalizacao/
Meu texto começa assim. Porque é a síntese de tudo o que eu sinto.
Amanhã faz um mês que meu bebe nasceu e minha vida ganhou um novo sentido. Estou escrevendo isso enquanto ele dorme sereno no meu colo. É a melhor sensação do mundo.
Eu ensaiei este texto milhares de vezes durante meses na minha mente, mas talvez ele não sairia tão brilhante como eu gostaria que saísse. Mas o mais importante era que eu gostaria, que chegasse a vocês, e que, por favor, mulheres que estão desesperadas para abortar, pensem muito, eu me arrependi muito, não quero o mesmo destino pra vocês.
Eu sou feminista e sempre serei. Infelizmente, o feminismo jovem e online brasileiro, confesso pra vocês, é composto em sua grande maioria por mulheres que ainda não conseguiram desconstruir sua rivalidade.
Um dos maiores problemas que tive contato com o feminismo nesses meus 3 anos e meio de militância foi o INCENTIVO AO ABORTO.
Não estamos falando de pessoas que militam para que o aborto seja legalizado, estamos falando aqui, de mulheres que organizam grupos online para DISTRIBUIÇÃO DE CYTOTEC (misoprostol - droga abortiva proibida no Brasil). Estamos falando de mulheres brancas e de classe média que se unem para comprar essa droga para outras mulheres, inclusive, meninas menores de idade. Estamos falando de mulheres que incentivam o abortamento e acreditam que o método é uma forma de empoderamento da mulher.
Eu “caí nessa ladainha”. Eu quase morri.Uma feminista me deu a droga, e eu num momento de desespero, abortei. A mesma feminista sequer me avisou sobre o pós-procedimento, mais conhecido como CURETAGEM. Não me deu qualquer suporte emocional, qualquer ombro amigo. Dez dias depois eu sangrei até quase morrer e tive sequelas gravíssimas. Ironia do destino ou não, quem me ajudou foi um HOMEM que de pró feminista não tinha nada.
Eu recebi um laudo médico de que se eu desejasse engravidar novamente, teria de fazer ANOS E ANOS de tratamento. Fiquei arrasada, um arrependimento terrível tomou conta de mim.
Então eu e minha companheira de luta, Bia, elaboramos uma cartilha com informações sobre aborto. Nela, ensinamos o que você deve fazer caso JÁ TENHA ABORTADO, como os procedimentos de saúde, sobre infecções, falamos sobre suporte emocional e indicamos grupos, ongs e instituições que ajudam mães solteiras com abrigo, cursos profissionalizantes, encaminham para empregos, etc.
Sete meses depois de abortar eu engravidei novamente. Essa foi a maior felicidade da minha vida. Mesma sabendo que o progenitor não iria me ajudar com absolutamente nada, Deus me deu uma segunda chance.
Infelizmente por conta do aborto meses antes, minha gravidez foi de alto risco nos primeiros meses. O medo de perder meu bebê me assombrava todos os dias. Tive sangramentos, tive que ficar de repouso por dias, interromper todas as minhas atividades. O tempo todo eu pensava "porque aquela feminista que me deu cytotec não me falou que eu poderia morrer tomando isso?"
Eu escrevi algumas vezes isso no meu perfil pessoal e fui atacada por feministas que me chamaram de pró-vida, e disseram que a decisão foi minha de abortar e que eu estou sujando o movimento contanto isso. Mas as pessoas precisam saber da verdade. O feminismo deveria se concentrar mais em salvar mulheres do que colocar a vida delas em risco.
Uma maneira correta de lutar pela legalização do aborto é se envolvendo com política, se eleger, fazer petições, fazer protestos, levar estatísticas pra população. E NÃO DISTRIBUIR DROGAS ABORTIVAS para mulheres e meninas.
A minha experiência de ter quase perdido a vida, de ter tido sequelas, pesadelos horríveis e de quase ter perdido meu bebê me tornou uma mulher CONTRA O ABORTO. Isso mesmo, eu Sara Winter, sou CONTRA O ABORTO.
Entretanto eu sou a favor da legalização do aborto. Por quê?
Porque eu acredito em livre arbítrio, portanto, cada ser humano faz o que quiser com seu corpo. Entendam bem: eu sou contra o aborto por ser um processo invasivo que pode abrir feridas emocionais que nunca mais cicatrizarão. Apesar de eu ter me tornado mais religiosa, não deixo que minha crença interfira no meu ativismo (até porque eu não sou cristã). Aliás, ninguém é a favor do aborto. Ninguém faz aborto por diversão, porque é “cool”, é mainstream. Doi o corpo, doi a alma, é incerto, é arriscado, é aterrorizante. Se faz aborto por desespero e falta de acolhimento do Estado.
Para todas as pessoas que eu possa ter vindo a ofender sobre o assunto de aborto, eu peço, sem qualquer ressentimento: perdoem-me.
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Sara Winter, 14 de Outubro de 2015.
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